sábado, 12 de março de 2011

O DON TRANQUILO ***

«- Liólia, o meu amigo Lisstnítzki!
« - Ah! Lisstnítzki! Muito prazer. O meu marido falou-me de si...
«Estava ofegante. O seu olhar sorridente, baço de felicidade, deslizou rapidamente por Lisstnítzki. Partiram juntos. A mão peluda de Gortchákov, com os dedos sujos, cheios de espigas, e de unhas negras, apertava a cintura virginal da mulher. Enquanto caminhava, Lisstnítzki ia olhando de soslaio aquela mão, aspirando o cheiro a verbena e àquele corpo feminino aquecido pelo sol, e sentia-se profundamente infeliz, como uma criança injustamente ferida. Olhava a ponta rosada da orelha pequena a espreitar por baixo de uma madeixa de cabelos de ouro avermelhado, a pele acetinada da face tão perto dos seus olhos, depois o olhar dele deslizou como um lagarto para o decote do vestido e viu um pequeno seio de uma brancura leitosa, com um mamilo castanho. De tempos a tempos, a mulher voltava para ele os olhos claros de reflexos azulados, e o seu olhar era acariciador, amigável, porém uma dor fina e irritante magoava Lisstnítzki quando esses mesmos olhos, ao fixarem-se no rosto negro de Gortchákov, brilhavam de uma maneira inteiramente diversa...»

[o segundo volume foi, talvez, o interregno necessário para situar historicamente o romance no quadro da revolução bolchevique; este, o terceiro, é, de novo, muito belo e muito sensual, como podem avaliar pela descrição do injusto e descabido ciúme de Lisstnítzki]

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