terça-feira, 19 de outubro de 2010
JOSÉ MAURO DE VASCONCELOS: MEU PÉ DE LARANJA LIMA, UM POST POUCO INTELECTUAL
Tecnicamente, não é difícil fazer chorar. Desde as tragédias da Antiga Grécia que um artista competente sabe que meios empregar. Se pensarmos bem, aliás, as fórmulas a que os blockbusters recorrem estavam já contidas na génese do Teatro Grego.
Recordo-me de um livro que tem merecido, julgo eu, pouca consideração por parte dos intelectuais exigentes. Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos, foi lido por mim quando tinha treze ou catorze anos; e sei que chorei ao longo de toda a leitura, desde as primeiras páginas, em que se entra no quotidiano de um garoto pobre, com uma incontrolável imaginação, reprimida por uma família que não tolera a sua criativa hiperactividade, até às últimas, que fecham essa narrativa do seu amadurecimento, num mundo muito duro, procurando alimentar, sorrateiramente, os sonhos, as fantasias e os amigos que o possam ensinar a lidar com a realidade.
A leitura da infância de Zezé é, também, a compreensão do seu crescimento e da sua aprendizagem. Mas que quer isto dizer? Que «crescimento», que «aprendizagem» são esses? Ou que se aprende, em última análise, nesses ritos de iniciação, senão uma única coisa: que o princípio do prazer nunca vence em face do princípio da realidade? Que todas as fugas estão, a prazo, comprometidas? Que o jogo e a brincadeira não são senão, nas crianças, uma preparação para os futuros «jogos de poder» ou «jogos de dinheiro»? Que o sonho não comanda a vida? Que a tristeza se instala, que o desemprego não é uma brincadeira, que as árvores realmente não falam e que, se a partir de uma certa idade insistirmos em continuar dialogando com elas, nos encerram no hospício? Ou que os melhores amigos morrem?
Chorei durante a leitura deste livro. Saberia já que chorava, no fundo, por mim mesmo?
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1 comentário:
os intelectuais exigentes raramente têm consideração por livros que as PESSOAS gostam eheh mas eu nem conheço muitos.
adoro esse livro tb foi uma leitura que me marcou prai aos 15 ou 16.
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