quarta-feira, 6 de outubro de 2010

ACERCA DOS MEUS LEITORES

Quando iniciei este blogue, não tinha outro objectivo que não descobrir um território onde pudesse escrever sobre livros. Não à maneira de um crítico, mas à maneira de um leitor, ou seja, de um sujeito embrenhado no acto de ler, com as suas preferências injustas, as suas impressões infundadas, as suas impaciências, ignorâncias, futilidades, falibilidades.

Não contava com uma especial afluência de visitantes. No entanto, aos poucos, e por mero acaso, fui sabendo de pessoas que me seguiam; de algumas que faziam, da vinda a este blogue, uma espécie de passeio higiénico: uma rotina saudável. Não me perguntem porquê, não saberia explicá-lo. O certo é que aconteceu. Tive o prazer de descobrir que, nos longínquos EUA, o meu primo não perdia a maioria destes posts, e levava a sério algumas recomendações; percebi que, no Brasil e em Portugal, atraía, como por magia, gentis e afáveis leitores, cada um com o seu próprio blogue - sobre literatura, sobre psicanálise, sobre media. Cruzei-me, entretanto, com jovens que haviam sido outrora minhas alunas, e me adicionavam, e me acompanhavam as leituras.

De modo que fui entendendo como, por algum ignoto motivo (que deverá mais a certa conjunção astral do que a qualquer mérito meu), juntava, ia juntando, juntei, sem plano ou know-how, um grupo de leitores talentosos, cultos, de qualidade. (Muitos, quase todos). E, neste momento, sinto-me eufórico com o grupo de seguidores que, aliás, vem paulatinamente aumentando. Habituei-me às suas fotos, aos seus ícones, aí na margem esquerda desta página. É um conjunto mais-que-perfeito. Até aquele certo jovem que me não lê: um sujeito que, colando-se-me ao blogue, não pretendia senão usá-lo como publicidade. Queria que votassem nele para o Big Brother Brasil, seja lá isso o que for! Bem: se um dia esse seguidor se fosse embora, se a sua foto desaparecesse de lá, a sua ausência trar-me-ia saudades...

E assim nos fomos familiarizando. Agora, um comentário inesperado pôs-me diante de Isabel, com a sua poesia, que, serpenteando em redor de objectos queridos - fictícios ou não, como sabê-lo?, os seus livros, a sua música, a sua sala, a sua varanda, as suas flores, o seu gato, os «remendos» a que se dedica... -, constitui um mundo no interior do qual tudo se move subtilmente, como num jogo de espelhos; e nada é o que parece, ou nada é só o que parece, mas símbolo, mas metáfora, mas alegoria de algo mais: como se, sob o mundo íntimo que se nos vai desenhando, suspirasse um outro mundo, uma outra vida, uma outra verdade.

Portanto, nesta altura - sou totalmente sincero -, tornei-me tanto leitor dos meus leitores quanto eles são meus leitores. Sinto-os respirar. Nunca este blogue fez tanto sentido. Nunca, como agora, sentar-me a escrever foi um acto tão pleno e tão consciente de comunicação. Muitas vezes são silenciosos, meus leitores. Raramente comentam, mas estão lá. Sinto-os, vejo-os. Ou não os vejo, mas prevejo-os, não os sinto, mas pressinto-os. Esperam-me. De algum modo, sei-o.

1 comentário:

Beatrix Kiddo disse...

"De algum modo, sei-o." e sabes muito bem. E melhor que ter muitos leitores é ter bons leitores :)