sexta-feira, 19 de agosto de 2011

HAENDEL EM ILHA TERESA, DE RICHARD ZIMLER

«E ouviu-se aquela voz.«
«Era uma voz agudíssima sustentando uma única nota perfeita. Quando subiu de intensidade fiquei à espera que se rompesse ou que descesse na escala. Mas não. Não saberia dizer se era uma voz de homem ou de mulher. Era sobrenatural. E talvez por isso mesmo senti a pele arrepiar-se.«
«Quem haveria de dizer que uma única nota nos podia preencher tão completamente?»

«Foi no dia seguinte que eu decidi o que gostaria de cantar se eu pudesse aparecer diante de Deus para pedir que o meu pai voltasse para mim: "Então o que vai ser, minha menina?", perguntava-me o Senhor Deus numa voz imponente, como aquela voz terrífica do feiticeiro de Oz quando a Dorothy lhe foi pedir ajuda. Tremendo como a Judy Garland, eu dizia: "Ombre mai fu, Senhor." Era o nome da ária. Foi composta no século XVIII por Georg Friedrich Haendel. Cantava-a Andreas Scholl.«

«Não houve nunca sombra/ de planta tão cara e gentil/ tão suave«

«Encontrei a tradução na capa do disco. Era uma canção de gratidão pela sombra. Só isso. Uns versos sobre uma coisa tão insignificante como a sombra era capaz de me fazer rir antes de o meu pai morrer, mas agora deixavam-me imaginar o que teria feito o Georg Friedrich Haendel pensar que escapar do sol era tão importante que o levou a escrever a mais bela canção do mundo sobre isso mesmo.»

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