domingo, 18 de julho de 2010

NÃO É UMA QUESTÃO DE MÉTODO, É DOENÇA

Uma amiga dizia-me que se vem atrasando na leitura do meu blogue. Que sou rápido. E perguntava-me, ou curiosa ou desconfiada, como leio tanto em tão pouco tempo.

O que referi em relação à leitura de Ulisses pode fazer uma primeira luz sobre o meu método. [Irão ver que, infelizmente, não se trata de método]. Dizia eu que o ia reatacar paralelamente, ou seja, ao mesmo tempo que lia outras coisas, até para repousar das dificuldades com que me debatesse. Este é um primeiro aspecto. Com Ulisses, afinal, esta tentativa de partilha não tem estado a dar certo, porque se trata de uma obra invasora: ocupa o espaço e o tempo, exige concentração, pede que voltemos atrás, às vezes que releiamos várias páginas que acabávamos de ler, sem perceber que as não tínhamos percebido. Mas, em geral, passo de um livro para outro. Não confundo, não misturo: digamos que, enquanto leitor, tenho heterónimos.

Por exemplo, neste momento, na minha cabeceira, está a Obra Reunida, de Juan Rulfo, que ainda não terminei; Infância, de Graciliano Ramos, que comecei há pouco; o extraordinário Mistérios de Lisboa, do Camilo - com um belíssimo prefácio de João Tordo, que me fez, entretanto, pescar, à estante, um livro da sua autoria, o primeiro, se não o único, que dele li: Hotel Memória, que é uma pérola!

Se a isto acrescentarmos que, por vezes, os livros sobre que aqui escrevo são simplesmente os de que me lembro e acerca de que me apetece escrever, muitas vezes sem os ter sequer relido - é o caso de Crime e Castigo ou de A Náusea -, com toda a falta de rigor que possa decorrer desses comentários elaborados unicamente a partir da memória, resolve-se o estranho mistério de um bloguista que, aparentemente, lê e escreve sobre dezenas de obras, mais rapidamente do que os seus próprios leitores o possam ler.

Não é um método: é um modo. É uma relação doentia com os livros. Há quem me fale em "reduzir", como se falaria a um fumador. É um gasto incomportável - por muito que recorra às bibliotecas, torna-se-me difícil entrar numa livraria sem "comprar" uma coisinha. Também, aqui, analogamente a um viciado - um alcoólico, que melhor faria mantendo-se à distância dos bares que lhe são as livrarias.

Referi, uns quantos parágrafos acima, um livro de João Tordo. Tenho de vos falar dele, um destes dias. Hotel Memória. Para vos deixar repousar da minha obsessão pelo Ulisses...

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