
O que Por Favor Não Matem a Cotovia, extraordinário romance de Harper Lee, contém de uma cândida espontaneidade, contém O Apogeu de Miss Jean Brodie, pelo contrário, de ironia e não-dito, de indícios e sugestões que nunca são desmontados. (O notável ensaio de James Wood sobre o livro intitula-se, precisamente: Nunca Justificar, Nunca explicar).
A fornalha de equívocos está, ali, aliás, tão activa, que é com algum espanto que me recordo de um filme com Julia Roberts, O Sorriso de Mona Lisa, que me dizem, ou terei lido, algures, que se inspira no romance de Muriel Spark: ora Julia Roberts (num clamoroso erro de casting) compõe uma professora cuja influência sobre as suas alunas, conservadoras e talhadas para o casamento, é totalmente positiva, ainda que se volte contra ela. Miss Jean Brodie, no romance, não é uma heroína. O seu "apogeu", a que constantemente se refere, e de que procura que as suas meninas "colham os frutos", é, obvi

Muriel Spark mantém este romance numa tensão desesperada, que não percebemos de onde vem, com que fios se fabrica. Aparentemente, nada fica por por descobrir: mesmo enquanto nos descreve a fase do "apogeu" de Jean Brodie e da sua relação com as meninas, a autora vai apresenta

E, no entanto, tudo permanece aberto, tudo são interrogações e dúvidas. Não nos falta saber quem ou o quê, falta-nos compreender o "porquê". O como mas, sobretudo, o porquê. E nesta espécie de silêncio que encobre o romance, nesta incumplicidade com o leitor, nesta ironia que desfaz clichés e desarticula, a cada passo, os caracteres que julgávamos ter já compreendido, se reconhece o génio.
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