segunda-feira, 10 de maio de 2010
A PROPÓSITO DA ILÍADA, DE HOMERO: FREDERICO LOURENÇO
«O escudo segurado por Aquiles é uma maravilha da metalurgia e da poética. Na descrição pormenorizada que dele faz o poeta no Canto XVIII, apercebemo-nos de que é todo um universo de experiência humana que está gravado no escudo. Vemos a terra, o céu e o mar; o sol, a lua e todos os astros do firmamento. Duas cidades se destacam pelas situações contrastantes em que se encontram. Numa, celebra-se uma boda com música e dança. A outra está em guerra, cercada: até as mulheres, as crianças e os velhos têm de defender as suas muralhas. Os homens saem para uma emboscada e chegam a um local idílico, aonde vão ter dois pastores com os seus rebanhos, tocando flauta. Apesar de indefesos, os pastores são mortos pelos soldados. Na expressão "deleitando-se ao som da flauta", que o poeta aplica aos pastores, e na descrição dos soldados escondidos "revestidos de bronze" encerra-se todo um mundo de contraste, toda a desumanidade da guerra, toda a precariedade da paz.»
Frederico Lourenço, «Ilíada: O Primeiro Livro», Grécia Revisitada, Livros Cotovia, Lisboa 2004
Duas notas tão-só:
Em primeiro lugar, para agradecer a uma das jovens brilhantes a que já anteriormente me referi, 0 ter-me lembrado a pura maravilha que é, na Ilíada, a descrição do escudo de Aquiles.
Em segundo lugar, para manifestar o meu assombro perante a enganadora simplicidade da escrita de Frederico Lourenço. Esta limpidez é, ao mesmo tempo, de uma tal intensidade, que nos apetece procurar, de imediato, o texto de Homero. Não é?
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