«Quando comparamos a nossa ridícula existência com as existências literárias que fomos acumulando na estante, tudo se torna incomparavelmente mais insignificante. Mais triste. Mais inútil. Porque a grande literatura não nos torna maiores. Torna-nos menores. E torna tudo mais pequeno. Podemos amar a donzela da praxe com devoção e zelo. Vocês conhecem: a Teresa, bonitinha, com apartamento em Telheiras e um Cinquecentto em segunda mão. Mas, honestamente, algum dia amaremos alguém como Dante amou Beatrice? Como o Quixote amou Dulcineia? Como Bendrix amou Sarah sob um céu carregado de demência e morte? Nada na vida é como nos livros. Não chove como na Londres de Larkin. A comida não sabe tão bem como nos romances de Hemingway. Os melhores martinis que tomei foram na prosa de Fitzgerald. Nos meses de verão, Veneza fede - mas nunca na literatura de Mann, Calvino ou Brodsky».
João Pereira Coutinho, Vida Independente
3 comentários:
é a triste realidade
foi por causa deste texto que comecei a seguir este blog. Decidi voltar cá e roubar pode ser? Obrigada :)
mas claro que sim, roube à vontade, que também a tenho roubado, Beatrix
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