Desde sempre que me lembro de folhear uns livros pouco volumosos, ilustrados com cartoons, acerca das pretensas diferenças (e consequentes dificuldades de compreensão mútua) entre mulheres e homens. Títulos como "Os Homens são de Marte, as Mulheres de Vénus", dizem-me alguma coisa.
Esta obra de divulgação baseia-se em centenas de observações e tem, subjacente, uma teoria científica. A de que, em última análise, homens e mulheres estão destinados a desentender-se porque, não só os seus objectivos na comunicação divergem, como o próprio significado das palavras ou dos gestos, quando falam, dependem inteiramente de contextos que não são lidos da mesma forma e de expectativas que não coincidem. Aparentemente, nada de original nesta tese; diria que ela nos é intuitivamente familiar. Anedotas acerca dessa incompreensão, desse "You just don't understand", abundam. O problema reside em que estas diferenças "subjazem" à comunicação, nunca são verbalizadas nem reconhecidas. Julgando, cada um, que a sua mensagem é clara e compreensível, ignoram ambos (a mulher e o homem) que o que dizem é sempre ouvido pelo outro através de uma espécie de refracção.
Não sei até que ponto concordaria, mas também não sou um exemplo tradicional: criado entre mulheres, convivendo e apreciando a convivência com mulheres, terei desenvolvido outros radares e outros instrumentos de leitura da sua maneira de estar e de falar. Não me queixo de incompreensões dramáticas, ou de equívocos que não poderiam surgir igualmente entre mim e outro homem. O que não impede que, em geral, o trabalho de Deborah Tannen seja impressionante e muito convincente.
Impressionante porque os registos dos diálogos entre raparigas entre si, e de rapazes entre si, desde o jardim de infância, ou das primeiras classes e do secundário, e de mulheres entre si ou homens entre si, mostram padrões muito específicos: o género feminino procurando sempre o estabelecimento de uma "intimidade" a que o género masculino parece avesso, ou com que se sente desconfortável. A maneira de as meninas, e as mulheres, serem amigas vive e exprime-se na necessidade dessa esfera íntima, dessa comunicação e reconhecimento de sentimentos, essa partilha, que entre rapazes, (repito: desde pequeninos) ou homens, se realiza antes na brincadeira e no evitar de um excesso de exposição emocional e afectiva. Não apenas "no" que se diz, mas na posição, no olhar (as meninas recorrem aos olhos-nos-olhos, que, entre os meninos, indicia quase sempre o confronto), nos gestos.
A propósito de não me lembro já que tema deste livro, uma amiga a quem eu o expunha, entusiasmado, respondeu-me: "Que disparate!" - desmontando o argumento com casos práticos, referentes a si e a várias outras mulheres, suas amigas ou conhecidas.
É, seja como for, um livro interessantíssimo.
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