sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

BEIJAR SEGUNDO O HOMEM DE MARTE


 "- Anne, que é que há de tão especial na maneira de beijar daquele rapaz?

Anne ficou sonhadora, depois sorriu.

- Devia ter experimentado..

- Sou demasiado velho para mudar. Mas tenho interesse por tudo o que diz respeito a este rapaz. Tem alguma coisa diferente?

Anne ponderou na pergunta.

- Tem.

- O quê?

- Mike dá a um beijo toda a atenção. 

- Ora bolas. Isso também eu faço. Ou fiz.

Anne abanou a cabeça.

- Não.  Já fui beijada por homens que o faziam bem. Mas nenhum deles dava a um beijo toda a sua atenção.  Não podem. Mesmo que o tentem com toda a boa vontade, partes do seu espírito estão concentradas em outras coisas. Perderam o último autocarro... as hipóteses que têm de conquistar a rapariga... ou nas suas próprias técnicas de beijar... ou, por vezes, preocupados com o emprego, ou com o dinheiro, ou com o marido ou com o papá ou com os vizinhos que o podem apanhar. Mike não tem técnica... mas quando dá um beijo não está a fazer mais nada. É-se o seu universo completo... e o momento é eterno, porque ele não tem planos e não vai a lado nenhum. Apenas nos está a beijar. - Ela arrepiou-se. - É irresistível. "


Robert A. Heinlein, Um Estranho numa Terra Estranha

2 comentários:

redonda disse...

Li o livro há muitos anos. Não me lembrava desta passagem

josépacheco disse...

Também o li faz tempo. Foi a passagem que nunca esqueci. Essa e aquela sobre a impressão que fazia a Valentine Michael Smith pisar, descalço, a relva - viva, vibrante sob os seus pés. Tão bonito...