domingo, 14 de março de 2010
À VOLTA DE TÍTULOS
Mas há, evidentemente, qualquer coisa de pessoal na maneira como um título nos agarra, ou, pelo contrário, nos agride, e que tem que ver com a experiência própria de cada leitor: cruzamentos e coincidências que despertam e surpreendem, em cada um, memórias e sensibilidades carregadas e prontas a explodir à menor das faíscas.
Já aqui falei sobre três títulos que me parecem achados perfeitos. O Homem sem Qualidades . Ó. Dramaticamente Vestida de Negro. Sê-lo-iam para todos?
Em Busca do Tempo Perdido é, em si mesmo, um nome muito forte e bonito, embora o prefira em francês: À la Recherche du Temps Perdu - que, todavia, nunca agradou ao seu autor, Marcel Proust, «em busca» de outra coisa qualquer.
Nenhum, porventura, me parece tão conseguido como Um Estranho numa Terra Estranha, que li em adolescente e, há algum tempo, uma amiga em suspenso me tornou a emprestar e me agradou reler. (Não tenho "ex-amigos". Mas há, por vezes, amizades que, devido ao desgaste, ao equívoco, à diferença de personalidades ou de interpretação dos factos, acabam ficando entre parêntesis por algum tempo...).
The Catcher in the Rye parece-me um excelente título, que não se consegue verter em português. Os Detectives Selvagens também está prenhe de promessas. A Náusea é um nome que choca, talvez, mas a que, inegavelmente, não conseguimos fugir. Fascínio/repelência, belo/horroroso.
Atrai-me Viagem ao Fim da Noite. Dez Dias que Abalaram o Mundo condensa, de um modo admirável, a revolução sobre que o livro se debruça. Crime e Castigo é um livro que compraria só por se chamar como se chama.
Uma Abelha na Chuva é este título belíssimo, de uma poesia melancólica. Sinais de Fogo é um nome suficientemente intrigante. O Livro de Areia também.
A Casa da Morte Certa parece - enganadoramente- reenviar para um policial, com um mistério que chama por nós a partir de uma certa casa. É certo que grandes livros possuem títulos, deste ponto de vista, completamente errados. Gente Feliz com Lágrimas é de um mau-gosto atroz e atroador. Claro, estamos no plano do que é estritamente pessoal.
Fogo Pálido é encantador. Mais belo, ainda em inglês, ora pronunciem lá: Pale Fire. Ou Por Quem os Sinos Dobram, não concordam? Ou Os Passos em Volta.
Porventura, estou enganado. Alguns títulos tornaram-se tão perfeitos para mim somente depois de haver conhecido a obra, e porque, conhecendo-a, deixei de ser capaz de pensar naquele título em abstracto, sem o associar de imediato ao conteúdo, da mesma maneira que tal romance já não é nem seria concebível separadamente do nome que eternamente vestiu e para sempre se lhe adequou.
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