Sou Africano. De Moçambique. Poderia, portanto, dar-se, ou faria pelo menos certo sentido que os meus autores contemporâneos de romance em língua portuguesa preferidos fossem Mia Couto, que persiste, contra ventos e marés, numa espécie de moda que não passa de moda, ou José Eduardo Agualusa.
(Ou Ondjaki: só para, entre os lusófonos africanos mais conhecidos da
actualidade, mencionar outro que me não convence...). Não são. Não faz mal. Talvez em futuro post, se este blogue tiver vida longa, eu possa explicar porquê. Sobretudo em relação a Mia Couto, que principiei por apreciar, como se apanhasse com um vento refrescante no rosto, mas, depois, se me esgotou entre as mãos, repetitivo, agarrado a uma fórmula, sempre politicamente correcto, tão politicamente correcto...
Em vez deles, os meus «autores contemporâneos de romance em língua portuguesa» são José Luís Peixoto (ao qual já, de passagem, aqui me dediquei) e Gonçalo M. Tavares.
Peixoto e Tavares comungam ambos, sem dar demasiado nas vistas nem depender de uma fórmula esgotável, de uma escrita surpreendente, que se sente na língua, na voz, se sente no paladar e na audição simultaneamente.
Mas trata-se, porém, de formas tão diferentes de beleza: a de Peixoto, quase feminina, ondulante, delicada, frágil e vaporosa, raiando as lágrimas (mas não as lágrimas fáceis, telenovelísticas...); a de G. M. Tavares tão virilmente matemática, tão despojada de folhos, por vezes cruel, tão precisa...
E os dois tão completos. Os dois tão perfeitos.
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