Um diálogo que cito de Sangue do Meu Sangue.
É uma conversa sobre sentimentos. Fascina-me pela sua imprecisão: dois homens que falam, não do que sentem, mas do que não sabem se sentem.
« - Às vezes tenho medo de não conseguir apaixonar-me a sério. Como as outras pessoas.
« - Como se apaixonam as outras pessoas? - perguntou Harry. [...]
« - Não sei. Perdem-se umas nas outras, acho eu.
« - Por que havias de querer perder-te noutra pessoa?
« - Tenho medo que o amor exija uma espécie de generosidade fundamental que eu não tenho. Tenho medo de não ser generoso, talvez seja isso. Sou vaidoso.
« - Eu sei que és vaidoso - disse Harry. - Não é o pior dos defeitos.
« - Precisamente. Nem sequer é um grande pecado. É um daqueles horríveis pecados menores. Preferia ser mau a sério.
« - Achas que chegou a altura de me dizeres que me amas? Achas que eu estou à espera que mo digas?
« - Não. Não sei. Estás?
« - Acho que não. Talvez esteja. Seja como for, não preciso que o digas.
« - Estamos juntos há seis meses - disse Will.
« - Quase sete. Por favor, não transformes isto numa coisa em que podes falhar.
« - Mas falhar é uma possibilidade. Falhar no amor. Recuar. Pode-se chegar até certo ponto, e depois dizer não.
« - Talvez. Achas que é isso que estás a fazer?
« - Não sei ao certo. É possível.
« - O amor tem má reputação. Quem não teria medo depois daqueles filmes todos?
« - Achas que me amas?
« - O que tu queres é que seja eu o primeiro a dizê-lo - disse Harry.
« - Mas achas ou não?
« - Acho.
« - OK.
« - OK?
« - OK.
« - O facto de tu não teres a certeza não vai arrasar-me. Não sou assim tão nervoso.
« - Não és mesmo, pois não? - disse Will.
« - Não, não sou.»
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