Um amigo enviou-me este poema de J.T.M., que me calou fundo:
Esses estranhos que nós amamos
e nos amam
olhamos para eles e são sempre
adolescentes, assustados e sós
sem nenhum sentido prático
sem grande noção da ameaça ou da renúncia
que sobre a luz incide
descuidados e intensos no seu exagero
de temporalidade pura
Um dia acordamos tristes da sua tristeza
pois o fortuito significado dos campos
explica por outras palavras
aquilo que tornava os olhos incomparáveis
Mas a impressão maior é a da alegria
de uma maneira que nem se consegue
e por isso ténue, misteriosa:
talvez seja assim todo o amor
José Tolentino Mendonça, «Os Amigos» in De Igual Para Igual
É muito, muito, muito bonito, não é? Obrigado, amigo.
2 comentários:
É (mesmo) muito bonito. Mas não o é menos, sobre o mesmo tema, o de Ramos Rosa, H.Helder, Alexandre O'Neil, Eugénio de Andrade, Auden e o de Carlos Queiroz (poeta que não conhecia e que comprei levada pelo prefácio de David Mourão-Ferreira), escrito nos anos 40 e que descobri, por acaso, numa edição da Ática:
Amizade
De mais ninguém, senão de ti, preciso:
Do teu sereno olhar, do teu sorriso,
Da tua mão pousada no meu ombro.
Ouvir-te murmurar: - "Espera e Confia!"
E sentir converter-se em harmonia,
O que era, antes, confusão e assombro.
Carlos Queiroz
Com admiração pelo seu blog
Aliete
Muito obrigado, Aliete. Por tudo o que me trouxe no seu comentário. Vou em busca!
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