sábado, 27 de fevereiro de 2010

LARKIN: OS VELHOS IDIOTAS

Penosa e deficiente tradução minha de um poema terrível:

Que pensam eles que aconteceu, os velhos idiotas,
Para os tornar nisto? Será que de algum modo supõem
Que se é mais crescido quando a boca se abre e se baba
E se mijam todos insistentemente, e não se lembram
Quem telefonou esta manhã? Ou então, que, se lhes apetecesse,
Podiam trazer as coisas de volta ao quando dançaram toda a noite,
Ou foram ao próprio casamento, ou marcharam, armados, num certo Setembro?
Ou imaginam que nenhuma mudança houve,
E que sempre se comportaram como aleijados ou bêbedos,
Ou se sentaram dias num leve contínuo sonho
Vendo a luz mover-se? Se não o supõem (e não podem), é estranho:
Por que não estão a gritar?

À morte, quebramo-nos: os pedaços que éramos
começam a fugir uns dos outros para sempre
Com ninguém para ver. É só um olvido, é certo:
Já o tivémos antes, mas então ia acabar tudo,
E estava sempre a combinar-se com um esforço extremo
Para fazer desabrochar a flor de um milhão de pétalas
Que é estar aqui. Da próxima não se poderá fingir
Que haverá algo mais. E são estes os primeiros sinais:
Não saber como, não ouvir quem, o poder
Da escolha desaparecido. O seu olhar revela que estão prontos:
Cabelo de palha, mãos de sapo, rosto de passa em rugas -
Como podem ignorá-lo?

Talvez ser velho seja ter quartos iluminados
Dentro da sua cabeça, e gente dentro, representando.
Gente que se conhece, mas que não se consegue nomear; cada vulto
Como uma perda profunda, assomando a portas conhecidas,
Pousando uma vela, sorrindo das escadas, tirando
Um livro conhecido das estantes; ou às vezes simplesmente
As salas em si mesmas, cadeiras e uma lareira crepitando,
O vento no arbusto, à janela, ou a débil
Amizade do sol na parede, num solitário
Fim de tarde de Verão, depois da chuva. Isso é onde eles vivem:
Não aqui e agora, mas onde uma vez tudo aconteceu.
Por isso é que dão

A impressão de uma ausência surpreendida, tentando estar lá
Mas estando aqui. Porque os quartos se vão afastando, abandonando
O frio incompetente, o constante usa-e-estraga
Do ar respirado, e eles acocorando-se diante
Do morro da Extinção, os velhos idiotas, não se apercebendo
Quão perto está. Deve ser isto que os mantém sossegados:
O pico que se mantém sob visão de onde quer que se vá
Para eles é um campo que se eleva. Será que nunca adivinham
O que os puxa para trás, e como tudo acabará? Nem à noite?
Nem quando os desconhecidos chegam? Nunca, ao longo
Desta horrorosa infância invertida? Bem,
Havemos de o descobrir.

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