segunda-feira, 25 de abril de 2011

ESCREVER: UM LIVRO DO AUTOR [VIVO] PREDILECTO DE AGUSTINA

Zé Alberto, que mantém o blogue A Ilha do Zé, consegue por vezes assombrar-me. (E, aos 53, digamos que não sou já um leitor de assombro fácil).
Na sua paixão por Agustina (a que não deixa de permanecer fiel, mesmo quando escapa para uma outra paixão sua, nas antípodas; veja-se bem: José Vilhena, o grande cáustico...), na sua paixão por Agustina Bessa-Luís, dedica-se a citar, e vai revelando, uma Agustina desconhecida do grande público. (Sendo que o «grande público» nem sequer a conhece). Não a literata um pouco gongórica, mas a mulher provocadora, dissonante, com predilecções no limiar do bizarro, quanto mais não seja no quadro do que julgamos saber da sua obra.
Aparece-nos uma Agustina cinéfila, por exemplo. Que vê os filmes, e não só: discute com os críticos de revistas norte-americanas. Que apreciou Bonnie and Clyde. Mas, segundo Zé Alberto, não tem pejo em dessacralizar os monstros, como Antonioni.E de surpresa em surpresa, descubro que, quando lhe perguntam pelo seu escritor de eleição [«escritor vivo», corrige-me entretanto Zé Alberto] Agustina responde: Stephen King. Ironia?! Certamente. Mas em toda a ironia há um ingrediente de verdade, ou de possível verdade, ou de verosimilhança, pelo menos, sem o qual a ironia não funcionaria.

Conheço Stephen King. Não o apodaria de «mau autor», mas é evidente que o vejo como um escritor especializado no terror (provocado sempre pela presença de um mal sobrenatural). Há algo como uma filosofia kingiana? Uma metafísica? Uma ética? Eu diria que muito básicas, ainda que Zé Alberto detecte um princípio comum à sua obra e à obra de Agustina: a busca de um paraíso por peronagens destinadas antes à Queda.
Mas lembro-me de livros de Stephen King de que gostei muito: nomeadamente um, escrito no tempo de recuperação de um acidente que por um pouco o não matara. O livro, chamado Escrever, é seguramente muito mais do que uma colecção de conselhos destinados a leitores que gostariam de se tornar escritores. É-o também, sem dúvida, mas é-o a partir da narração da sua experiência e da sua formação como escritor, expondo-nos, segundo a sua própria obra, as diversas fases da construção de um romance: desde o desenho da intriga, até à elaboração das personagens.

E portanto, relendo esse livro (cuja feitura ajudou King, de algum modo, a recuperar da doença e, mais dramaticamente, a «vencer a morte»), entendo - quase - o lado mais interessante e verídico da provocação de Agustina Bessa-Luís.

1 comentário:

Zé alberto disse...

José, permita-me antes de mais uma pequena correcção ao facto de referir que Stephen King é o escritor cuja obra Agustina prefere. O escritor que encontra no seu regaço melhor acolhimento, com o qual se irmana é, ao que apurei pela leitura de algumas entrevistas, F. Dostoievsky. Contudo, dos escritores vivos, Agustina dá a sua preferência a Stephen King.

Resta-me então manifestar-lhe o meu profundo agradecimento por este seu post em que o José sublinha o meu trabalho n' "a ilha do Zé".

É meu desejo que este seu blog a que se tem dedicado com admirável esforço e interesse na publicação das suas análises, continue a merecer a sua melhor entrega!

abraço!