Devo dizer que a sessão correu muitíssimo bem. A Elisa Costa Pinto fez uma leitura que me agarrou pela profundidade: já tinha ouvido dizer a pessoas que escrevem, que, no momento em que ouvem falar inteligentemente acerca dos seus textos, se sentem como perante algo que deixou de lhes ser familiar, inteiramente por redescobrir a partir de outros enfoques, de ângulos que não tinham percebido. Mas não sabia até que ponto isso, mais do que uma pose ou uma frase bonita, é a mais pura das verdades.
«Observo apenas», escreve Kant, na Crítica da Razão Pura, «que não raro acontece, tanto na conversa corrente, como em escritos, compreender-se um autor, pelo confronto dos pensamentos que expressou sobre o seu objecto, melhor do que ele mesmo se entendeu, isto porque não determinou suficientemente o seu conceito e, assim, por vezes, falou ou até pensou contra a sua própria intenção»: não é tanto que eu tenha falado, pensado ou escrito «contra a minha própria intenção»; é que a minha intenção não era senão um dos motores na construção de uma história que se modifica consoante a intenção de cada leitor, de quem quer que dela se aproprie. O que não deixa de ser estranho. É o mínimo que posso dizer: o que não deixa de ser muito estranho. Agradável e incomodamente estranho.
Senti-me acolhido e amimado. Objecto de atenção, curiosidade, interesse. Um agradecimento ao grupo que se empenhou em organizar a cerimónia, com tanto cuidado e carinho.
Agora, um interregno comercial, estúpido e infame, mas necessário: o livro pode ser encomendado on-line. [Sítio do Livro]. Está à venda na livraria Trama - que adoro, mas, entre pilhas de livros para organizar, ainda não encontrou tempo para referir este Nada Mais e o Ciúme, o que compreendo, por egocentrista que seja -, na livraria Barata - onde, pelo que me dizem, o esconderam bem - e na livraria Galileu, de Cascais.
Se os que têm curiosidade na obra e pensam que «irão comprá-la» (daqui a uma semana? um mês? um dia destes...?) não avançarem, não sei como diabo irei acabar de a pagar no imediato. Fica muito mal esta advertência no blogue? Olhem que não. Entendam isto como um acto de resistência. Sem qualquer vitimização da minha parte, sem embarcar em teorias da conspiração, peço apenas que se detenham um momento na seguinte pergunta: será mesmo que o sistema está montado para que uma voz que não chegue via editoras esteja morta à nascença?
PS: Um mail da Catarina, da Trama, fez com que me apercebesse da injustiça da minha consideração. O livro está em destaque na livraria, desde há muito. Os meus sinceros pedidos de desculpa à Trama.
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