domingo, 3 de julho de 2011

PEDRO GUTIÉRREZ: TRILOGIA SUJA DE HAVANA


O livro foi-me recomendado por um amigo cujo gosto literário tenho em grande apreço. (Confesso: sobretudo desde que percebi o seu entusiasmo em relação ao meu próprio romance).
Numa biblioteca, procurando a obra que me recomendaram, encontro-a, depois de uma pesquisa acidentada, na secção de literatura erótica.
Trago-a - mas antes de iniciar a leitura, os meus olhos suspendem-se da fotografia do autor, na contracapa: um sujeito completamente calvo, em camisola interior, de ar pouco amistoso, um charuto grosso entre os dentes.
Depois, começo a ler. É uma obra singular, de facto.

O erotismo compreende-se: numa linguagem crua e provocadora, que narra na 1ª pessoa, estes contos descrevem um macho em permanente estado de erecção, orgulhoso do modo como «faz as mulheres virem-se várias vezes», que adora mulatas, rum e erva. Referem-se-lhe como a uma espécie de «Bukowski do Caribe ou de Henry Miller de Havana»; passo adiante nas analogias: a questão é que, a partir do seu olhar apolítico (ou melhor: de quem explicitamente se «caga na política»), extremamente irónico, sem esperança na redenção da humanidade - ou, sequer, de Cuba -, Pedro Gutiérrez reconstitui uma Havana tensa de vitalidade e de sexo, onde a infidelidade e a fome fazem parte do quotidiano, bem como o engenho e uma certa criatividade para o pequeno golpe como modo de sobrevivência.

Percebo o que divertiu tanto o meu amigo neste livro. Trata-se de um protagonista com o qual dificilmente não simpatizaríamos - até pelo assumir até às últimas consequências de uma certa marginalidade: leia-se por exemplo «Abandonando os Bons Costumes», despudorada confissão de como se vivem os dias segundo uma escolha - passar fome e procurar sexo, quando as outras escolhas seriam tornar-se persona grata do regime, ou meter-se numa balsa e escapar em direcção ao tentador capitalismo...

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