sábado, 14 de maio de 2011

JOHN RUSKIN











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Há muito que procuro John Ruskin. Não há forma de o encontrar. Em português, até já tinha desistido de conseguir: não creio que o traduzissem; mas mesmo em inglês: os livreiros mais cultos desconhecem-lhe o nome, hesitam, pedem-me que repita, anotam, nunca voltam a entrar em contacto comigo.


Ruskin tem, para mim, dois fortíssimos polos de atracção. Por um lado, a influência que exerceu sobre Proust, que sabia inglês e o leu em inglês. A própria linguagem, requintada e minuciosa, mas também o poder de observação ou uma certa concepção estética dos lugares, que são, em conjunto, uma parte substancial da grandeza de Proust, encontram em Ruskin as suas premissas.

Por outro lado, obviamente, a ligação deste aos pré-rafaelitas, corrente e personalidades que redescobri recentemente, e não param de me surpreender e fascinar. (Leia-se, por exemplo, Adoecer, de Hélia Correia, já por mim comentado neste blogue). Ninguém como Ruskin, no seu tempo, os terá apreciado, compreendido, apoiado e ajudado a divulgar.


Ruskin era extremamente conservador. Talvez mais do que um conservador, um «reaccionário»: e, não obstante, a sua visão anti-progressista contém algo de profundamente exacto (meço com cuidado as minhas palavras) e de profundamente poético: veja-se um texto (a que chego através de uma citação em As Vantagens do Pessimismo, de Roger Scruton) em que Ruskin escreve sobre o que se perderia com o desenvolvimento do comboio e dos caminhos-de-ferro, esventrando, unindo e transformando radicalmente a terra tal como «a conhecemos», alterando e adulterando por completo as relações entre as pessoas (e, claro, as relações entre as pessoas e a terra), tornando o homem um ser móvel e desenraizado, em constante trânsito sobre o mundo.



Oh, eu sei o que se ganhou com o comboio. E com o avião, por exemplo. Todos o sabemos, de resto: o que me pergunto é se estamos conscientes do que perdemos. (E com o domínio do avião - lembrava-me ontem o meu primo, ao jantar - uma das coisas que perdemos quase definitvamente foi a viagem por mar: as demoradas travessias do oceano...)

Por mim, continuo procurando Ruskin; talvez venha a revelar-se-me uma profunda decepção. (Se chegar a encontrá-lo). Mas, possivelmente, só se o não merecer.

1 comentário:

sonia disse...

Zé, quem sabe possa encontrar alguma coisa do Ruskin nos endereços abaixo:

http://www.casadellibro.com/libros/ruskin-john/ruskin32john/pt_pt

http://www.estantevirtual.com.br/qau/John-Ruskin

Abraço,
Sônia