sábado, 12 de novembro de 2022

LIANE MORIARTY: NOVE PERFEITOS DESCONHECIDOS

 Por várias razões que talvez não mereça a pena examinar a fundo, mas que vão desde o título "catchy", até ao próprio género de capa, este romance torna-se enganador. Como se quisesse passar por um policial menor ou por um típico livro de aeroporto, tratando-se, na verdade, de uma obra com certa sofisticação e algum sumo, como aliás podemos depreender, nos agradecimentos finais, de uma brevíssima bibliografia em que são referidos, como obras que foram úteis à pesquisa da autora, coisas como No Time to Say Goodbye, Acid Test, Therapy with Substance e, last but not least, As Portas da Percepção, de Aldous Huxley.

A australiana Liane Moriarty


é, com efeito, uma autora da moda. Talvez tenha encontrado a chave para agradar a gregos e a troianos. Mas diga-se desde já que este livro sobre nove perfeitos desconhecidos que se encontram, durante dez dias, numa misteriosa clínica terapêutica, dirigida por uma estranhíssima ressuscitada (sim, a sobrevivente de uma experiência de quase-morte, que, segundo ela, foi uma morte completa) está muitíssimo bem escrito, captando com um notável poder de observação antropológica, digamos assim, as personagens, e seguindo uma estrura que é um primor, quer na forma como escolhe alguém que funciona como fio condutor (Frances Welty, uma escritora talvez em fim de carreira, embora não seja a narradora da história) quer no modo como vai apresentando os outros protagonistas, sem um esquema pré-fixado de entrada de cada um, mas ao sabor de circunstâncias a propósito. É delicioso.

A surpresa e o suspense são a marca, mas, e é isso que faz deste romance uma leitura que vale a pena, o interesse psicológico dos dramas vividos por cada um dos nove desconhecidos entre si, dos seus erros ou descobertas, no ambiente claustrofóbico e um tanto alucinado que é Tranquillum House, transformam a história numa espécie de distopia em torno da busca da felicidade espiritual.

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