Publicado pela preciosa Elsinore ("preciosa" no que respeita à selecção de autores e de obras, claro, mas também ao bom-gosto e cuidado estéticos e gráficos), Mikhail e Margarita é um título que pisca o olho a Margarita e o Mestre, de Mikhail Bulgakov. Este último, brilhante escritor russo do período de Estaline, persona non grata do regime, foi convertido em personagem do presente romance, estreia de uma jovem norte-americana. O "Mikhail" do seu título seria, precisamente, M. Bulgakov.

O problema reside na progressão do romance. Há como um tique de escrita que consiste em interromper e quebrar um diálogo, após cada afirmação, com um esmerado descascar de tudo quanto essa afirmação significa, e o que sente ou pensa ou quer o locutor, antes de podermos saber o que lhe responderá o interlocutor. Na verdade, torna-se fastidioso e pouco subtil, como se não se acreditasse na capacidade de o leitor fazer a sua própria leitura, como se um indício ou um sinal nunca bastassem, como se fosse preciso explicar e psicanalizar cada pessoa e cada momento.
Quando nos adaptamos a (ou nos conformamos com) este ritmo, percebemos que o romance tem imenso a oferecer. Mais do que tudo, a intuição de um mundo orwelliano, em que, a partir de certo limite, todos somos cobardes e até o mais importante, o amor, a amizade, a arte, poderão ser renegados antes que o galo cante três vezes.
Lamento ter de acrescentar que a tradução deixa a desejar, e a revisão foi feita - se foi - em cima do joelho.
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