sexta-feira, 16 de agosto de 2013
JOËL DICKER: A VERDADE SOBRE O CASO HARRY QUEBERT
Sou um fanático do género policial. Bastaria, quase, esta introdução, para explicar por que motivo alguma antena em mim vibrou quando ouvi falar de um romance de cerca de setecentas páginas sobre um crime, e que, no entanto, «se lê compulsivamente», «sem interrupções».
Por outro lado, Joël Dicker, o autor, um jovem político suíço, também me pareceu digno de atenção. Questionado sobre se este livro, que já era best-seller, oferecia «tanta intensidade» [ou qualquer expressão no estilo] como a trilogia Millenium, de Stieg Larsson, retorquiu que não a conhecia, propondo uma matriz alternativa: nada menos do que Nabokov e Marguerite Duras. Pelo menos esses, que me lembre. Algo do meu habitual cepticismo torceu qualquer coisa como um nariz. Mas disse de mim para mim: «Tenho de ver isto!»
Há um outro romance policial de setecentas páginas, mas realmente muito bom: A História Secreta, de Donna Tart. É um clássico de intriga e cultura, onde, em cada página, pressentimos a presença de Sófocles, Dostoievski, Hitchkock. Dar-se-ia o caso de A Verdade sobre o Caso Harry Quebert ser um seu parente tardio, um irmão vindo muitos anos mais tarde, um primo, um sobrinho?
Desse ponto de vista, desilude. As referências do autor a Nabokov e a Duras não significam senão: «Eis uma história que ousa tocar um tema tabu: desenterra, trinta anos volvidos, a paixão que um aspirante a escritor teve por uma ninfeta de 15 anos (assassinada, um pouco à maneira de Laura Palmer: aldeia superficialmente pacata ocultando terríveis segredos, remember?)»
Na perspectiva de Humbert Humbert, uma miúda de 15 anos seria mais uma idosa do que uma ninfeta, mas adiante...; por outro lado, o grande segredo do romance, mais do que: «Quem matou Nola?», é: «Quem realmente fez o que todos atribuíam a outrem?» Fiquemos assim: mais clareza equivaleria, porventura, a estragar de antemão o que o leitor verá por si. Todavia, nesse ponto, na forma como se engana o leitor acerca de quem fez o que se pensou que teria sido obviamente feito por quem o apregoa, meus amigos, topo a referência secreta, oculta, a obra basilar e o autor a que se vai beber. Pierre Siniac. O actualmente desconhecido Siniac, autor de um policial que é, esse sim, imperdível, embora não esteja traduzido para português: Ferdinaud Céline. E, aí, o "Céline" do título está longe de ser uma referência gratuita.
Porém, isto interessa pouco. Seria como desvendar a fórmula da coca-cola, percebendo que onde garantem existir "x" só se encontra "y", e onde esperariam "a", tropeçam em "b"; não altera o facto. O facto é o sabor: o tal sabor que eu odeio mas, inegavelmente, se entranha, e não conseguimos que não vicie os nossos filhos a partir dos 7, 8 anos, por muito que os procuremos manter na ignorância. Harry Quebert é, por fim, também isto. Um romance que se lê de respiração suspensa, cavalgando os capítulos pela madrugada adentro, sem vestígios de sono, e cujas revelações surpreendem mesmo, de maneira que perdoamos a fragilidade dos diálogos; ou a evidência da pouca qualidade de trechos «citados» como sendo passagens da obra imorredoira que o escritor em crise, sob um estado de paixão pela rapariguinha, teria, por fim, conseguido escrever e publicar.
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2 comentários:
Fiquei curiosa...:) este verão veio-me parar às mãos um que me deixou, também, de respiração suspensa...
http://www.wook.pt/ficha/lembro-me-de-ti/a/id/13927610
não se consegue largar...
Estou a terminar de ler este romance e daqui a uns dias publico também a minha opinião. Um bom conteúdo, embora alguns pormenores pudessem ter sido melhor elaborados!
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