sábado, 5 de dezembro de 2009

JEROME K. JEROME: 3 HOMENS NUM BOTE (SEM MENCIONAR O CÃO)



E quanto a livros de humor que me tenham marcado?

Para além de Eça de Queirós, cuja obra contém humor a jorros - mas possui tão mais para além disso que seria um crime reduzi-la a uma colecção de romances humorísticos - poderia referir Alice, tanto no País das Maravilhas como no Outro Lado do Espelho; poderia referir um clássico português que circula na minha família há várias gerações, o impagável Lisboa em Camisa (tão velhinho, que o emprestei a uma amiga e ela foi imediatamente para o hospital, vítima de um ataque de asma) e, last but not the least, um certo romance, comparativamente muito mais recente: Três Homens num Bote (Sem Falar no Cão), de Jerome K. Jerome.

Três Homens foi-me apresentado pelo meu tio; segundo ele mesmo me disse, lia-o na cama quando adoecia e tinha de faltar à escola; absorvia-o com enormes gargalhadas: em face disso, a tia Joaquina vinha saber por que piorara a tosse.

Aprecio particularmente, no livro, aquela astuciosa ingenuidade que também encontramos no Conde de Abranhos: conta-se com a maior das seriedades, como se se tratasse de elogiar um comportamento corajoso ou definido por algum tipo de virtude, o que o leitor percebe que se trata de idiotice, ou cobardia, ou mesquinhês.

As situações, quase surrealistas, descambando facilmente no nonsense, nunca são senão a radicalização daquilo que é perfeitamente possível e com que nos identificamos: todos nós já tivemos a experiência de montar uma tenda, por exemplo, e sabemos que se trata fatalmente do esforço estóico de nos enrolarmos em cordames, tropeçar em espias e ver cair o que parecia seguro, antes de se recomeçar do zero.

É verdade que Jerome K. Jerome tem a pulsão da filosofia: nem sempre se embrenha em meditações sem se tornar fastidioso. Quando quer parecer sério, cansa. Mas os seus hipocondríacos, os seus tios irascíveis ou patetas, o seu pianista trágico, alemão (que uns jovens estudantes convenceram o público que era um músico de cançonetas cómicas), ou, sobretudo, a forma como, narrando a viagem de férias feitas por três amigos (sem falar no cão), rio acima, aproveita, a propósito, para introduzir os mais diversos episódios familiares - ou pretensamente da História de Inglaterra - fazem de Três Homens um livro hilariante. Um livro que não descansei enquanto não redescobri, na feira do livro, há uns anos, para poder passar o testemunho ao meu filho...

2 comentários:

Anónimo disse...

Boa noite, gostaria de um resumo deste livro.
Você poderia me enviar?
Obrigada desde já!

Anónimo disse...

Meu livro preferido