sábado, 17 de outubro de 2009

SÓFOCLES: ANTÍGONA



Na escola, em estreita colaboração com a História e a Filosofia, ando a preparar entusiasticamente, na Biblioteca, uma sessão sobre Antígona.

O meu grupo de amigos tinha decidido, há algum tempo já, animar uma série de comunicações em que cada um de nós iria falar acerca de um qualquer tema por si escolhido: lembro-me de que a minha ideia era levar-lhes Antígona - tratando a magnífica tragédia de Sófocles; analisando a intensíssima personagem principal, de que a peça usa o nome ; falando sobre a incompreensão manifestada por Creonte acerca de tudo quanto Antígona, ao desafiá-lo, realmente simboliza e veicula; sobre a autenticidade e grandeza femininas dela (que, ao longo dos séculos, todas as feministas procuraram fazer suas); ou acerca das palavras sublimes mas obscuras e enigmáticas, maravilhosas (e maravilhadas) mas, por vezes duras, do Coro dos Anciãos Tebanos...

Nunca cheguei a fazer essa comunicação. Contudo, agora que regresso ao texto de Sófocles para o preparar para a escola, redescubro, com o misto de prazer e angústia que a Antígona em mim provoca, as frases lapidares dirigidas por uma mulher corajosa à sua irmã insegura e carregada de medos e dilemas: «Tu escolheste viver, e eu, morrer»; «não queiras partilhar a minha morte nem faças teu aquilo em que não tocaste. Para morrer basto eu», como se a morte fosse um privilégio reservado aos verdadeiros corajosos, aos que trabalharam por ela...
Ou contra Creonte, o irascível tirano que não percebe que há e haverá, acima da sua lei escrita, uma lei não escrita, infinitamente mais poderosa: «por causa das tuas leis, não queria eu ser castigada perante os deuses, por ter temido a decisão de um homem».

Ah, como dirá o coro, «muitos prodígios há, porém, nenhum maior que o homem», esse que doma e domina, ultrapassa e vence, que através da sua tecnologia tudo transforma à sua imagem e semelhança, cura doenças, desenvolve o pensamento, como se nada o detivesse nem ao seu poder - e, porém: «ao Hades somente não pode escapar».

Porque algo é obscuramente mais forte do que o homem, do que a sua razão e a sua imaginação, a sua astúcia política, a sua lei, a sua obra, a sua sede de poder, ou o efectivo exercício desse seu poder, através de uma tecnologia que ele desenvolve e continuamente multiplica.

Estou como Freud: quanto mais evoluídos nos tornamos, mais percebo que a essência radica na Antiga Grécia. Os Gregos já nos aguardavam. Sempre esperaram por nós, ainda nós não tínhamos nascido.

1 comentário:

diacinzento disse...

Aprende-se com o teu blog. Não li nenhum dos livros que elegeste. Li o Proust quando andava a descobrir a literatura. Talvez o volte a ler,se me emprestares,para ver se tem o mesmo efeito sobre mim.
De há uns tempos para cá os romances não me procuram, e eu tenho saudades.
São