quinta-feira, 8 de novembro de 2012
WALTER BENJAMIN
Graças às leituras que uma amiga tem vindo a fazer para o seu doutoramento, e de que me dá regularmente conta, redescubro o meu amado Walter Benjamin.
Acredito que o meu primeiro contacto com a obra tenha sido feita através de uma tradução francesa, que comprei numa fnac, em Paris - ainda em Portugal se não sabia o que era isso de "fnac": podem, portanto, calcular os anos.
Desde o primeiro momento, para mim, Benjamin foi uma conjugação em que nenhum elemento se poderia desprezar: a figura, como um ícone, remetendo para um misto de Trotski e Chaplin, com os caracóis despenteados, os óculos redondos, de aros filiformes, o bigode: a expressiva timidez, o olhar típico e paradoxal de um observador atento e distraído; depois, o seu marxismo heterodoxo, numa altura em que o meu próprio marxismo ousava ensaiar alguns desvios na ortodoxia; finalmente, a inteligência brilhante e vasta, que acertava nas questões interessantes muitos anos antes de eles começarem a estar na ordem do dia, a sua circulação pelos assuntos da poesia e do romance, da política, da cultura, da teoria da arte ou da filosofia.
Como relativamente a Zweig, culturalmente semelhante a Benjamin em tantos aspectos - e tão dissemelhante em outros -, intimida-me e angustia-me imaginar o que poderá ter conduzido estes espíritos brilhantes a decidirem pôr termo à vida. Que a sua condição de judeus perseguidos por um regime patológico os tenha feito sofrer experiências físicas - e psicológicas, e intelectuais -, que os marcaram para sempre possa ser a resposta, nada me explica.
Mas todas as suas teses são de uma originalidade absoluta. Lê-se Benjamin com uma alegria da descoberta e da aprendizagem que, na filosofia, me parece vizinha da que Nietzsche proporciona, ou Montaigne, mas poucos mais. A mesma euforia das intuições, a iluminação breve e contagiante, o prazer do modo de expressão certo, frequentemente aforístico, a que não se pode acrescentar ou retirar o que quer que seja.
Benjamin estava esquecido. Esquece-se facilmente, como tudo o que exige trabalho e não está nas bocas do mundo. Mas permanece sempre a um passo da redescoberta, e a redescoberta dá-se com a curiosa sensação de que, de facto, só aparentemente o esqueceramos. Obrigado, Ana, por mo teres devolvido.
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