Neste livro tudo convida ao equívoco. Não admira, pois, que me haja equivocado.
A começar pela capa, com aquele toque de mau-gosto que sugere uma obra virada para o consumo pouco exigente, tal como, aliás, o próprio título português, que não faz a menor justiça ao original "Love's Executioner". Eis, pois, um exemplo de como os editores, ansiosos por abranger um número quase infinito de leitores, acabam por deformar o objecto, afugentando dele o nicho que poderia verdadeiramente apreciá-lo.
Basta ler a última das dez narrativas - a melhor, quanto a mim -, para se perceber que Irvin Yalom, de facto, não é Freud, mas também não pretende sê-lo. Todavia, há, na descrição destes seus casos clínicos, qualquer coisa de verdadeiramente delicioso: a exposição da experiência da "contra-transferência", isto é, da vulnerabilidade do próprio psicólogo, que reage às histórias dos pacientes a partir dos seus próprios fantasmas e preconceitos, cansaços e impaciências. É nesse aspecto que o autor se torna, aos nossos olhos, uma pessoa frágil e cheia de dúvidas, sempre em estado de paixão por alguns dos seus pacientes, fascinado com certos casos ou absolutamente desinteressado de outros - embora, numa postura de permanente auto-vigilância, não deixe que a paixão o transporte, e se esforce por investir em todos por igual.
Cada um destes casos desperta curiosidade e questões; para isso contribui, naturalmente, a experiência e a eficácia literárias do autor [um psicólogo que é também o escritor de alguns romances que se lêem com agrado]. Daí a facilidade com que faz de um paciente uma personagem, no sentido mais nobre da palavra, apreendendo-o física e psicologicamente com uma impagável minúcia: a mulher apagada e sem chama, que oculta uma personalidade sedutora e atrevida, no limiar do indecoroso, ou - no já referido último capítulo - esse homem preconceituoso, de espírito burocrático, que, à noite, enquanto dorme, parece libertar um "sonhador" diferente de si, criador dos sonhos, de sonhos plenos de inteligência e de fantasia, que narrará no consultório, são somente dois exemplos dessas personagens marcantes.
A começar pela capa, com aquele toque de mau-gosto que sugere uma obra virada para o consumo pouco exigente, tal como, aliás, o próprio título português, que não faz a menor justiça ao original "Love's Executioner". Eis, pois, um exemplo de como os editores, ansiosos por abranger um número quase infinito de leitores, acabam por deformar o objecto, afugentando dele o nicho que poderia verdadeiramente apreciá-lo.
Basta ler a última das dez narrativas - a melhor, quanto a mim -, para se perceber que Irvin Yalom, de facto, não é Freud, mas também não pretende sê-lo. Todavia, há, na descrição destes seus casos clínicos, qualquer coisa de verdadeiramente delicioso: a exposição da experiência da "contra-transferência", isto é, da vulnerabilidade do próprio psicólogo, que reage às histórias dos pacientes a partir dos seus próprios fantasmas e preconceitos, cansaços e impaciências. É nesse aspecto que o autor se torna, aos nossos olhos, uma pessoa frágil e cheia de dúvidas, sempre em estado de paixão por alguns dos seus pacientes, fascinado com certos casos ou absolutamente desinteressado de outros - embora, numa postura de permanente auto-vigilância, não deixe que a paixão o transporte, e se esforce por investir em todos por igual.
Cada um destes casos desperta curiosidade e questões; para isso contribui, naturalmente, a experiência e a eficácia literárias do autor [um psicólogo que é também o escritor de alguns romances que se lêem com agrado]. Daí a facilidade com que faz de um paciente uma personagem, no sentido mais nobre da palavra, apreendendo-o física e psicologicamente com uma impagável minúcia: a mulher apagada e sem chama, que oculta uma personalidade sedutora e atrevida, no limiar do indecoroso, ou - no já referido último capítulo - esse homem preconceituoso, de espírito burocrático, que, à noite, enquanto dorme, parece libertar um "sonhador" diferente de si, criador dos sonhos, de sonhos plenos de inteligência e de fantasia, que narrará no consultório, são somente dois exemplos dessas personagens marcantes.
Um livro que se lê contra as expectativas é, obviamente - não muitas vezes, mas é - a possibilidade de uma boa surpresa.
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