segunda-feira, 26 de novembro de 2012

IRVIN D. YALOM: O PROBLEMA ESPINOSA



Yalom, psicanalista norte-americano de ascendência russa e judaica, tornou-se conhecido como autor de vários romances, vagamente históricos, acerca de figuras importantes da filosofia. O seu livro sobre Nietzsche, por exemplo, lê-se com algum interesse, bem como o seu livro sobre Schopenhauer. Em ambos, está presente o que poderíamos definir como uma «psicanálise arcaica»: antes de Freud ter estabelecido a sua teoria, filósofos como Nietzsche ou Schopenhauer, convertidos em personagens literárias, são apresentados nos seus mais íntimos debates emocionais, procurando que aflorem, à consciência, sofrimentos enquistados e inconscientes.
Em geral, os romances de Yalom seguem dois tempos - nos nossos dias, certa personagem identifica-se com o problema do filósofo em causa, é levado a ler a obra deste, e a perceber, nos textos, o processo filosófico que funciona como uma terapia, que o auxilia também.

Com "O Problema Espinosa" estamos perante o mesmo método.
Por um lado, Baruch [ou Bento] de Espinosa é o extraordinário pensador judeu que, por amor à razão e por desprezo por todos os "idola" e superstições, acaba sendo excomungado pela comunidade judaica de Amsterdão, onde se radicara.
Por outro lado, séculos após Espinosa, Rosenberg, uma figura importante do regime nacional-socialista (embora suscite sentimentos ambivalentes entre os próprios líderes nazis), descobre a importância filosófica «deste judeu». Descobre-a através de Goethe! Descobre-a através do testemunho de admiração pela filosofia de Espinosa, expressa por alguns dos expoentes da Literatura alemã, ariana. Em diários, na correspondência, referem o pensamento de Espinosa como tendo-lhes  devolvido a paz de espírito e uma inesperada intimidade com o segredo da Natureza.

É porventura verdade que, para quem não conheça Espinosa nem se interesse por filosofia, este romance possa ser inutilmente complexo: perde-se em longas discussões entre as personagens, a propósito de Deus, do judaísmo, de um radicalíssimo determinismo; mas para aqueles a quem a filosofia ilumine [sobretudo para aqueles a quem a filosofia de Espinosa interpele], a obra faz todo o sentido - reconstitui um Espinosa historicamente possível e muito interessante, até nas suas contradições. Há uma dedicação e uma penetrante compreensão deste homem, que se entregou inteiramente ao pensamento, lutando contra as paixões, em busca do conhecimento perfeito do ser perfeito, de uma visão, de uma "theoria" libertada de todos os preconceitos, mas que, na prática, não teria superado os seus próprios preconceitos. Como é natural; e um exemplo é o da sua posição retrógada acerca das mulheres.
Yalom é, pois, uma vez mais, o psicólogo subtil e profundo, o psicanalista experiente, o estudioso próximo dos homens concretos e das questões abstractas da filosofia.

3 comentários:

EfeitoCris disse...

ora tb já li o livro de Nietzche e estou curiosa com o de Schopenhauer - mas pelos vistos Espinosa é mais do mesmo e acrescenta pouco!?!? ou como diz, quem goste deste assuntos, filosoficamente falando, ganhará e viajará nas descrições inteligentes de Yalom!?

Parabéns pelo blogue

Thalita disse...

Eu li Quando Nietzsche Chorou e Mentiras no Divã, ambos de Irvin D. Yalom. Ele é magnífico e meu autor favorito. Não sei se mais alguém está com o mesmo problema, mas eu nao encontro esse livro para comprar! Schopenhauer eu até encontrei na internet, mas Eapinosa não acho em lugar nenhum!!

Anónimo disse...

aí, thalita na saraiva anália franco já tem!