segunda-feira, 21 de março de 2011

FLANNERY O'CONNOR: UM BOM HOMEM É DIFÍCIL DE ENCONTRAR


No blogue da Trama, Catarina escreve um post que cito rápida e integralmente: «Bem-vinda, Flannery, ao meu coração!» Era, talvez, o mote que me faltava.

Flannery O'Connor é uma autora que atinge a perfeição na escrita dos contos. É o seu género de eleição e, sem dúvida, aquele em que usa mais brilhantemente o que tem de certeiro, para empregar a palavra de alguém a propósito de Flannery, como escritora. [Gostei muito menos, por exemplo, do único romance que conheço da sua autoria, Sangue Sábio]. Toca-nos, em primeiro lugar, pela profundidade de personagens aparentemente simples e sem filosofia. Campónios do Sul da América do Norte, pregadores cristãos, famílias simples, avós que participaram na guerra da sessessão, criados negros filhos de escravos, proprietários de plantações de algodão, mães envelhecidas de jovens estudantes empertigados. Não há clichés, mas referências, facilmente reconhecíveis, desse sul feito de famílias numerosas, amas gordas, de lenço à cabeça, garotos descalços, cachimbadas ao alpendre e bebedeiras: de Tom Sawyer e Huckleberry Finn a E Tudo o Vento Levou ou Por Favor, Não Matem a Cotovia, é um mundo que se nos tornou familar na literatura e no cinema.


Em segundo lugar, pela complexidade das relações já antigas, que descobrimos a partir somente de um certo presente, ignorantes dos segredos que só ao longo da leitura se nos revelarão; pela amargura que ecoa em todos os seus contos, raramente felizes; ou pela sensibilidade e pelo amor que se desprende destas suas pessoas rústicas e ignorantes. Um amor que reflecte o amor dela própria pelas personagens, mesmo pelas mais duras e implacáveis, as menos amáveis.


Lembro-me de ter sido feito imediatamente prisioneiro pelo primeiro livro de contos que li de Flannery, Um Bom Homem é Difícil de Encontrar, e da alegria com que descobri, meses - ou anos - mais tarde, que fora traduzido um outro, Tudo o que Ascende Deve Convergir (não sei se é este o título em português de: Everything That Rises Must Converge). A frase simples de Catarina fez-me desejar o regresso às histórias breves desta autora. E reencontro o livro com o mesmo prazer do primeiro encontro.

1 comentário:

Anónimo disse...

Não há dúvida que "Um Bom Homem é Difícil de Encontrar" é um belíssimo livro de contos da escritora norte-americana Flannery O'Connor e à medida que nos aproximamos do fim os contos conseguem ser ainda melhores.
Há ainda mais dois livros de contos desta escritora: "Tudo o que Sobe deve Convergir" e "O Gerânio" e ainda os dois únicos romances publicados pela escritora: "Sangue Sábio" e "O Céu é dos Violentos", duas obras notáveis, poderosas, que têm como pano de fundo o fanatismo religioso vivido no sul dos EUA.
A obra completa de Flannery O'Connor encontra-se publicada em Portugal.

Jorge Navarro