quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA: OS AMIGOS

Um amigo enviou-me este poema de J.T.M., que me calou fundo:


Esses estranhos que nós amamos
e nos amam
olhamos para eles e são sempre
adolescentes, assustados e sós
sem nenhum sentido prático
sem grande noção da ameaça ou da renúncia
que sobre a luz incide
descuidados e intensos no seu exagero
de temporalidade pura

Um dia acordamos tristes da sua tristeza
pois o fortuito significado dos campos
explica por outras palavras
aquilo que tornava os olhos incomparáveis

Mas a impressão maior é a da alegria
de uma maneira que nem se consegue
e por isso ténue, misteriosa:
talvez seja assim todo o amor

José Tolentino Mendonça, «Os Amigos» in De Igual Para Igual

É muito, muito, muito bonito, não é? Obrigado, amigo.

2 comentários:

Anónimo disse...

É (mesmo) muito bonito. Mas não o é menos, sobre o mesmo tema, o de Ramos Rosa, H.Helder, Alexandre O'Neil, Eugénio de Andrade, Auden e o de Carlos Queiroz (poeta que não conhecia e que comprei levada pelo prefácio de David Mourão-Ferreira), escrito nos anos 40 e que descobri, por acaso, numa edição da Ática:

Amizade

De mais ninguém, senão de ti, preciso:
Do teu sereno olhar, do teu sorriso,
Da tua mão pousada no meu ombro.
Ouvir-te murmurar: - "Espera e Confia!"
E sentir converter-se em harmonia,
O que era, antes, confusão e assombro.

Carlos Queiroz

Com admiração pelo seu blog
Aliete

josépacheco disse...

Muito obrigado, Aliete. Por tudo o que me trouxe no seu comentário. Vou em busca!