domingo, 21 de novembro de 2010

BORGES, LEITOR DE DANTE

Reproduzo esta pintura belíssima, que pedi emprestada ao blogue de Bea7rix Kiddo (o magnífico Tenho Estado a Ler Whitman), porque me parece a ilustração adequada ao contexto de uma conversa que ela e Morcegos no Sótão travaram, então, e no mesmo blogue, a propósito de Dante. Pensei meter-me nessa conversa, comentando, por minha vez. Mas preferi não me tornar intruso.

A questão aparecia por causa de A Divina Comédia. Nenhum dos dois a tinha lido, ambos desejavam fazê-lo. Morcegos no Sótão preocupava-se, entretanto, com o italiano que deveria dominar para se abalançar a uma tal leitura. Bea7rix recordava a premiadíssima tradução de Vasco Graça Moura - que, porém, se encontra esgotada. Mas, com certa ironia, propunha-se aprender italiano depois de ter lido A Divina Comédia.

Ocorreu-me uma pequena conferência em que Borges nos apresenta a sua própria leitura, fascinante, do poema de Dante. [Se não se trata de uma conferência, seria uma entrevista entre várias que lhe haviam sido feitas não me lembro já por quem. Ainda procurei por aí, na minha estante, entre livros que julgo ter adquirido na mesma altura. Não o encontrei, pelo que terei de a reconstituir de memória].
*
O que Jorge Luís Borges conta é como, na sua juventude, aprendeu o italiano precisamente com A Divina Comédia. Possuía, obviamente, uma edição bilingue: mas, tanto quanto me parece, as traduções do poema são, na sua maioria, bilingues. Borges ia de eléctrico, a cegueira ainda o não invadira, e aproveitava um percurso demorado para mergulhar no texto. Começava sempre pela versão original. Lia um primeiro conjunto de versos, tentando apreender-lhes o sentido, o que, curiosamente, conseguia fazer com mais facilidade do que temera. Afinal, o italiano - e mesmo o italiano de Dante; não sei, aliás, se Borges não diz: principalmente o italiano de Dante - não é tão irredutivelmente diferente do castelhano (ou do português), que não seja possível retermos uma ideia, uma significação. Então, lia a tradução; depois, porventura, voltaria aos mesmos versos anteriores, em italiano, para confirmar, para consolidar.
*
A seguir, lia os seguintes, e assim progredia. Este era o seu método. E percebeu que, ao fim de algum tempo - ou seja, ao cabo de umas quantas viagens -, o seu italiano se aperfeiçoara o suficiente para prescindir da tradução, a não ser pontualmente.
*
Pessoalmente, gosto muito da tradução feita por Sophia. É muito cuidada, muito bonita. Mas não me lembro de que seja bilingue.
A de Vasco Graça Moura, que li mais tarde - e emprestei, e nunca mais recuperei... - é bilingue. Está esgotada? Raios!

1 comentário:

Beatrix Kiddo disse...

isso é ainda melhor...bilingue.Se calhar é isso que faço. Nunca vi o texto em italiano não faço ideia a complexidade. Está esgotada e eu ando á procura dela...obrigada pela referência *