sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

INJUSTIÇAS

Temo ter sido injusto, no post em que procurava lembrar e referir os marcos do meu passado como aprendiz de leitor.
Então, e sobre Júlio Verne, nem uma palavra? Pois havia uma colecção bem bonita, com livros de capas apetitosas, coloridas: sei que me ofereceram, em certo aniversário, Atribulações de um Chinês na China, que li com algum entusiasmo. Sei que havia, na minha cabeceira, A Volta ao Mundo em 80 Dias.

Então, e sobre Mark Twain, nada a dizer?
Como é possível?

Talvez ainda antes de Os cinco e de Os Sete, Tom Sawyer foi o livro que me conquistou: tratava-se de um rapaz hiperactivo. (Sabia eu lá na altura o que era isso! Aliás: o próprio Mark Twain não fazia ideia, na época em que escreveu simplesmente sobre um puto irrequieto e aventureiro, que possibilidades diagnósticas reservaria o futuro). Esse garoto dotado de uma imaginação inesgotável, que o mundo dos adultos não era capaz de digerir, agarrou-me, prendeu-me, levou-me consigo.

Depois li Huckleberry Finn; apreciei-o também devidamente, mas não como a Tom Sawyer, ah, não, nada como Tom Sawyer - e a sua temível tia Polly; o irmão perfeito, invejoso e delator (até porque eu tinha um irmão perfeito, invejoso e delator); a Becky, por quem nos apaixonámos os dois ao mesmo tempo, Tom e eu; o Huck; o preto Jim. E, claro, o malvado Injun Joe!

Recordo as cenas como se as relesse, Deus do céu!, desde aquela encenação que Tom faz, logo num dos capítulos iniciais, para persuadir os seus amigos de que tarefa que a tia o obrigara a desempenhar era, na verdade, um prazer - o que teve como resultado que lhe pagassem (em berlindes ou ratos mortos atados por um fio) para a realizar em vez dele -, passando pela sua inesquecível e malograda tentativa de suicídio por amor, até aquela outra, já no fim, que nos oferece o dramático confronto com Injun Joe, que tantos pesadelos me provocou...

Tom Sawyer e Huckleberry Finn são livros, perdoem-me a expressão detestável, infanto-juvenis como se não fazem já. Maduros, interessantes, profundos - sem cedências. Uma porta aberta para o gosto de ler.
Esqueci-os?
Imperdoável.

1 comentário:

josépacheco disse...

Curiosamente, passando hoje - 4 de Março - por um alfarrabista, revi os livros de Júlio Verne. A colecção em causa era a Bertrand. E as capas, efectivamente muito bonitas, não são tão bonitas como eu as trazia na memória...